domingo, 20 de novembro de 2011

19/11 - Bate-papo com o escritor Ricardo Azevedo

Tivemos o prazer de receber em nossa escola o escritor Ricardo Azevedo para um bate-papo com os professores e a equipe da escola.
Ricardo começou incitando-nos a pensar sobre o tempo em que vivemos e a exercitar nosso olhar crítico ao analisá-lo. Segundo ele, vivemos num tempo absolutamente técnico o que nos faz olhar o mundo e a vida sob a lente do controle, da estatística, da impessoalidade, da precisão, do êxito. Dentro desse pensamento, não cabe a Arte nem tampouco a Literatura. A Literatura trata de assuntos que não são tratados pela técnica: paixão, autoconhecimento, aprendizados da vida... Pra que serve a saudade, a amizade? A vida não tem a lógica da técnica.
Enquanto educadores, precisamos pensar como a Literatura entra na escola. A função da Literatura e da poesia é trazer os temas humanos para escola. As artes humanas se dão em relação, são imprecisas, impalpáveis, não são estanques diferentemente das Ciências exatas. O homem só existe enquanto ser humano em relação com outros homens, sozinho ele não é nada. Essa conversa foi entremeada por algumas reflexões do sociólogo Norbert Elias.


Ele também compartilhou conosco algumas ideias do livro "A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio", de Christopher Lasch para pensarmos a respeito do papel da escola como um lugar de reflexão do modelo cultural vigente em nossa sociedade.
Uma das coisas que Lasch diz, ao descrever o homem moderno, é que ele pensa em viver para si, não para os que virão a seguir ou para a posteridade. Isso gera uma perda de sentido da continuidade histórica e desinteresse pelo futuro e provoca o isolamento do eu numa tendência da cultura da solidão total. Outro ponto trazido por Lasch é uma super valorização da própria imagem como um objeto vendável, enquanto o "eu" interior é absolutamente ignorado.
Dentro dessa cultura de valorização da tecnocracia, o processo também é algo ignorado, valorizam-se as respostas prontas e os resultados imediatos.
Estamos formando pessoas para continuar esse mundo como ele está ou para transformá-lo num mundo melhor? Queremos uma escola que forme técnicos consumidores e despolitizados ou uma escola que forme sujeitos criativos e politizados capazes de criar seus próprios projetos pensando na construção de um futuro que será construído por eles?
Para isso, a escola tem o importante papel de desenvolver o pensamento crítico. Não o fazendo, estará formando analfabetos sociais.
Pensando nos textos, o texto de um livro didático tem por objetivo que 100% dos leitores tenham a mesma interpretação, sendo portanto um texto mais objetivo e impessoal. Os textos literários possibilitam a formação de subjetividades, são plurissignificativos e permitem ao leitor o desenvolvimento de sua expressividade.
Dentro do universo literário existem linguagens mais populares e linguagens mais eruditas, cabe a escola mostrar isso aos alunos, evitando a construção de hierarquizações que coloquem um texto como superior ao outro por sua linguagem. Ressaltando que nem tudo é compreensível e que diferentes leituras exigem diferentes leitores, às vezes requerem mais experiência, conhecimentos específicos.
Ricardo também compartilhou conosco as reflexões de Wolfgang Iser no livro "O fictício e o imaginário: raízes antropológicas da literatura", pensando nos seres humanos como seres com perguntas, por meio das quais constroem a cultura, buscando por meio da ciência, das religiões, da literatura respostas provisórias a elas. Provisórias, pois nosso ponto de chegada e de partida são lugares desconhecidos e imprevisíveis, além de estarmos em constante mudança, que decorrem de nossas experiências de vida.
Falamos muito, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, da distribuição de renda, mas raramente se fala na distribuição de conhecimento.
A escola neste momento em que estamos vivendo tem funcionado como um "pronto-socorro" da sociedade. Há que se chegar o momento em que se pratique a "medicina preventiva", o que envolve um processo de mudança e por ser um processo não acontecerá da noite para o dia e nem em curto prazo. O importante é termos em mente que somos construtores desse processo por meio de nossas ações diárias.
Vou encerrar este relato com uma sugestão de um livro do Ricardo que acabei de ler e achei maravilhoso:


Obrigada, Ricardo!

2 comentários:

  1. É isso que dá "virar" mestra! Começa transformar o relato de um simples blog num texto complicado de ler! E bom também! parabéns!!
    Paio

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  2. O encontro com Ricardo Azevedo foi riquíssimo. Suas palavras nos levaram a olhar para nós mesmos. Pensamos um pouco a respeito de nossa existência, analisando o quanto ainda somos egoístas, esquecendo que seres vieram antes de nós e outros virão depois, exigindo de nós responsabilidade. Reforçou, também, a importância de nosso papel enquanto educadores capazes de humanizar e contribuir para a formação do cidadão realmente político e possuidor do bem mais precioso: o conhecimento.
    A você, Ricardo,
    MUITO OBRIGADA!
    Professora Sônia Regina Oliveira

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